Falta de segurança ainda afasta barreirenses das praças da Matriz e do Rosário, em Barreiros.

Igreja do Rosário (Imagens Ed Soares)
Há não muito tempo atrás, nós, autênticos barreirenses, nos gabávamos de ir às pracinhas da Matriz ou do Rosário, nos finais de tarde, ou às noites, qualquer dia da semana, para ficarmos de bate papo com nossos amigos, conhecidos, dar um oi àquele ou àquela que passasse por nós. Sinal de que tudo em nossa cidade exalava paz e sossego. Típico comportamento de cidade interiorana.


Praça da Matriz, vista de cima, final de tarde do dia 04/09/2017 (Imagem Ed Soares)

Os estudantes das escolas estaduais ou municipais esperavam ansiosamente que batesse o sino de largada para irem às praças que eram o ponto de encontro da juventude. Seja para paquerar, brincar ou simplesmente passar o tempo o fato é que essas duas principais pracinhas da cidade eram preenchidas de alegria.

Igreja do Rosário (Imagens Ed Soares)

Para os saudosos, dos tempos atuais, apesar de não ser de tanto tempo assim (eu explico por que), lembram como era gostoso estarem nas praças e como era complicado encontrar um banquinho para sentar, haja vista o número crescente de pessoas que acorriam àqueles locais.

Praça da Matriz (Imagem Ed Soares)

Nos finais de semana, entre as duas pracinhas, quem perdia em número era a Praça da Matriz. Sim, porque, enquanto alguns iam à esta por força da religiosidade, ou seja, iam para a Igreja Matriz de São Miguel, os demais iam à praça do Rosário por conta das festividades que semanalmente eram apresentadas no Clube Caiadores. Até os dias de hoje o mesmo está ativo, mas seguramente, com menos número de gente à frente, como era antes. Nem todos os que firmavam-se à frente do clube entravam, é bom que se frise isso. Uma grande maioria estavam simplesmente na pracinha por que, como falei acima, era ponto de encontro. Muitos até, em conversa, paquera ou namoro, terminavam por serem a atração fora do clube. Outros, ficavam à frente do clube por falta de dinheiro mesmo, sem ter como pagar, mas aproveitavam o barulho do som que se ouvia de lá, e sentavam nos bancos à prosear, tomando um refrigerante ou aquela cervejinha, ali mesmo, nas barraquinhas que eram montadas desde a calçada do muro do local do evento.

Igreja do Rosário (Imagens Ed Soares)

Como alguns podem pensar, estou tratando aqui de tempos idos, supostamente me referindo aos anos de 1960, 70, 80 ou 90. Sinto porém, ter que lhes dizer que se enganam. Estou falando à um período bem próximo da gente com cerca de 5 há no máximo dez anos atrás. Isso mesmo. Parece mentira, mas é a mais pura realidade. Nós, barreirenses ou gente vindas das cidades vizinhas, tínhamos como atração principal as pracinhas do Rosário e Matriz como ponto de encontro. E mesmo sem shoppings ou grandes centros comerciais, como algumas cidades grandes tem, o nosso divertimento estava concentrado, manhã, tarde e noite, nestes locais.

Uma das maiores certezas de estarmos em locais livres como estes citados por mim, era o fator segurança. Nós nos sentíamos seguros por que, apesar do pouco número de PM's que nossa cidade sempre teve havia na cidade o respeito pela Guarda Municipal, ou os vigias, como alguns de nós com 30 ou 40 anos chamávamos à esses profissionais.

Mas o que mudou nestes poucos anos para cá?

Depois das enchentes do ano de 2010 e consequentemente com o adventos das "casas novas da egesa" em função da Operação Reconstrução, bem como a existência de bairros novos na cidade, muita coisa mudou. As pessoas, mais distantes não tem como virem ao centro da cidade curtir as pracinhas como antes. Além, infelizmente, do aumento de crimes como roubos e assaltos, e mortes que passou à assolar a cidade, principalmente depois do ano 2011, quando passamos à ver, ler e ouvir noticias na Rádio Local, Blogs e redes sociais apontando para crimes à luz do dia, ou nas noites envolvendo uma boa parcela de jovens que, ligados ao tráfico cometiam e ainda estão à cometer crimes à todo momento.

Aliado à essa onda de crimes ainda tivemos que observar o reduzido número de policiais pelas ruas da cidade, graças à um plano de governo estadual que além de desmerecer essa classe de profissional, faltando à estes número de contingentes, falta de material para trabalho, redução da frota veicular, e não reconhecimento de salários, além de mais outros fatores.

Para completar o péssimo quadro de insegurança na cidade, à partir do ano de 2012 foi montada "uma nova guarda municipal" que, talvez por excesso de segurança dada pelo prefeito naquele período, inexperiência e um tanto de orgulho apressado, cuminol, alguns da GM, em praticar ações covardes que fez com que a população que deveria sentir-se segura com esses novos profissionais, recuassem e passassem à odiar aqueles novos "vigias" da cidade.

Assim sendo, entre os anos de 2012 à 2016, mortes à arma de facão, revolveres, entre outros tantos equipamentos usados para o crime dava conta de pessoas mortas, sejam cidadãos comuns ou pessoas ligadas ao tráfico, ou não, eram vistos espetáculos, muitos deles horrivelmente compartilhados nas redes sociais como, Facebook e Whatsapp, de seres humanos tendo suas cabeças arrancadas por armas brancas ou fuziladas em qualquer hora do dia ou da noite.

Já quanto à esses que eram considerados pontos de encontro passaram à serem vistos como pontos para venda e compra de drogas, e uso excessivo de alcoólicos desfazendo o clima antes de tranquilidade, hoje, de medo. Diversos assaltos passaram à ser destaque na linha vermelha do jornalismo policial, deixando os pacatos moradores da cidade e seus visitantes com medo de trafegarem ou estarem nos bancos, que já são poucos, ou em conversas.

Hoje ainda estamos bem distantes da realidade que antes tínhamos. Perdemos o status de cidade pacata para figurarmos, desgraçadamente, em cidadãos com medo.

O que esperar daqui para a frente? O que fazer para melhorar esse quadro, ainda temeroso, de que se apossou a cidade de Barreiros nestes últimos anos?

É preciso reunir, sem partidarismo, a cidade com seus cidadãos, órgãos policiais, guarda municipal, professores, escolas, administrativo municipal e lideranças religiosas, excluído-se o lado político, para que, em um movimento livre e aberto á todos, possa-se debater os rumos que podem-se tomar para que o barreirense retome a segurança de andar, sem medo, nas pracinhas públicas, senão como antes, pelo menos um pouco mais livres. Alguma coisa tem que ser feita, não esperando que o político X ou Y faça. Que nós façamos, repensando no bem coletivo.

Estamos, seguramente, em período e transição planetária, e exatamente por isso, não devemos nos acomodar, cruzando nossos braços, esperando que outros façam aquilo que nos compete fazer pelo bem de uma cidade que sempre mereceu olhares das cidades vizinhas por nossa paz e sossego alcançados antes, mas infelizmente, perdidos hoje.