O que representou e representa para mim o "VEM PRA RUA" deste último domingo, dia 15 de março?


Por que você não raciocina e não coloca sua mente pra funcionar? Até onde vai a sua conveniência e irresponsabilidade no quesito coletividade, em se falando dos rumos de um país, como o nosso Brasil? Qual a necessidade da submissão aos grandes e aos que se julgam poderosos? E por que você não se posiciona real e de fato contra os abusos e a corrupção que se alastra em todas as cidades de nossa nação, a começar pela que está agora, mas por outro lado se sujeita à contribuir para mais um grande golpe contra si mesmo e contra seu país?

Essas e tantas outras perguntas fervilham não apenas minha mente como na de muitos outros que apartidariamente, consegue enxergar o mundo, principalmente o meio político sob a ótica da razão. Infelizmente estes são poucos.

No dia 15 de março foram às ruas uma boa parcela da elite brasileira "reclamar" não por direitos populares, mas por posicionamento de um valor elitista, que nestes últimos anos estão sendo dispensados à uma maior parcela de gentes comuns. Uma "revolta" criada por um grupo político e seguida pela nova classe média, que mesmo crescendo ainda não entendeu, ou não se apercebeu que para estar onde está hoje muitos lutaram e até derramar seu sangue por valores que hoje desprezam.

Segundo um primeiro levantamento apresentado pela Rede Globo, cerca de 1,4 milhão de pessoas estiveram nas ruas da grande São Paulo "protestando" por supostos direitos, pela derrubada de um governo, pela volta do militarismo, pela queda da democracia duramente conquistada por nossos pais e avós. Já uma nota diz que no mesmo estado de São Paulo o número de manifestantes não devem ter passado de 210 mil pessoas, contrariando o que as mídeas empresariais teimam em colocar na mente do povo de memoria fraca. Não obstante, vimos de fato um levante de pessoas indo às ruas e todos podiam manifestar, desde que não aparecessem de vermelho em seu meio.

E quando eu falo aqui de supostos direitos protestados, gente, é que uma grande parcela de pessoas, uma grande maioria, não sabem o que estão fazendo nas ruas, ou foram para lá para ver o que outros estavam fazendo, somando-se sem um planejamento estratégico de fato. Uma grande massa, ainda dominada por um sistema manipulador e golpista saíram às ruas, sim, no dia de hoje, em busca de um impeachment com um desejo ferrenho da volta da ditadura e do militarismo. Apenas com o foco no partido dos trabalhadores, em cima de Dilma e Lula, ambos do PT.

Hipocritamente vimos Aécio Neves exaltando os manifestantes, de cima de seu prédio, em vídeo e artistas bem remunerados, como é o caso de Ronaldinho que ainda vestia uma camiseta fazendo alusão ao seu principal financiador, líder do PSDB com os dizeres "a culpa não é minha, eu votei no Aécio"

Por que não fui às ruas?

Nas minhas andanças pelas ruas de Curitiba, capital do Paraná, tive a felicidade de conhecer o senhor José Gomes da Silva. Ele mesmo aposentado saía em busca de emprego para continuar trabalhando, já que segundo o mesmo, a aposentadoria o estagnava e o que ele mais queria, aos 73 anos de idade, era sentir-se útil para alguém, de alguma forma. Trabalhamos em algumas empresas de vendas e tivemos bons momentos de gostosas conversas em que eu aproveitava para ouvir seus relatos de quando ele, ainda jovem, teve que enfrentar com sua família, o rigor do militarismo quando na intervenção militar à partir do golpe de 1964.

- "Sofremos, minha família e eu, agruras nunca imagináveis. Perdi meu emprego. Tive minhas contas bloqueadas. Não podia pegar dinheiro emprestado com amigos... por ser suspeito de participar do comunismo, sem ser" confidenciou-me com olhos marejados de lágrimas e o olhar distante como se observasse os sofrimentos de ontem, novamente à sua frente.

De vez em quando, ele limpava os olhos e parecia temer alguma coisa, algo um tanto suspeito. Olhava dos lados e voltava à comentar seus traumas da década de 60.

Este valoroso senhor, que tive o prazer de conhecer, era uma mente brilhante. E com ele conheci os bons caminhos da doutrina Rosa Cruz e alguns poucos fundamentos da verdadeira Maçonaria, mostrando-me ele que "tudo na vida tem dois pontos; a crença do que é certo e a crença do que achamos ser certo".

- "Eram tempos difíceis meu amigo e você que está gozando dessa liberdade de agora, não faz ideia do que nós passamos. Sofríamos muito. Éramos perseguidos". Dizia-me ele que chegou ainda à me confidenciar que viu seu irmão e uns amigos sendo retirados de casa à força por militares que invadiram-na, quando eles moravam no estado de São Paulo, sendo ele e familiares acusados de participarem do regime comunista, sem o serem de fato.

Ainda segundo ele, e à partir deste dia, nunca mais teve noticia de seu irmão e nem dos seus amigos, que não concordavam com o regime militar daquela época dos anos 60.

No final do ano de 2014 vimos espalhados nas redes sociais uma mulher que passou por regime igual sentindo na pele as lembranças duras de sua época, ao receber em mãos o relatório da comissão da verdade sobre crimes no regime militar e cai em prantos ao relembrar de alguns mortos de seu tempo. Tratava-se nada mais nada menos do que Dilma Rousseff. Atual presidente de nossa nação brasileira, eleita pela segunda vez com o poder da maioria de votos.

Para aqueles que não estudam e/ou detestam estudar a história de uma nação e que muito mau conhece o que se passa à um ou dois quarteirões de sua própria cidade, é muito fácil acreditar no que passam maliciosamente algumas "fontes" à partir das redes sociais, uma grande maioria, suspeitas. Sua preguiça e comodismo não lhes permite vasculhar a história, mesmo com a facilidade da internet...

De uns tempos pra cá passou-se à implantar na cabeça dos não pensantes a suposta implantação do comunismo, lutando contra a "esquerda", colocando apenas a bandeira do PT como ponto de partida inicial, e mostrando que apenas o partido de Dilma e Lula é o carro chefe da corrupção no Brasil. A bem da verdade a Rede Globo de televisão em parceria com a VEJA e outros canais financiados pelo PSDB, PSB, PMDB, DEM, PP e demais outros partidos e empreiteiras que financiam a corrupção no país desde longa data, estão apenas interessado na "vaga" que restará na cadeira do poderio e não na disseminação da corrupção, já que eles também são corruptos.

O que mudará com o ato do dia 15 de março em nosso país?

Estamos falando de lutar contra a corrupção, com suas mazelas em todos os partidos, ou apenas de eliminar uma pedra no caminho de uma classe minoritária que quer com todas as forças voltar ao poder passando de novo à pisar os mais pobres?

Muitos outros Zé Gomes estão por aí, em diversas cidades de nosso imenso Brasil ainda temerosos do período em que viram e sentiram na pele o que é a intervenção militar.

- "Eu vivi o pior momento da história do Brasil, amigo, e posso lhe afirmar que estamos muito bem, nos tempos de hoje!" Diz José Gomes da Silva, um senhor que me ensinou à não aceitar nada pronto. "Vocês de hoje, acham que sabem de muita coisa. Mas não fazem ideia... Ler o que escrevem nos livros é uma coisa, mas ler na própria pele o que se escreve em nossos livros pessoais é uma situação totalmente diferente que não desejamos para ninguém!" Confidenciou-me.

Eu não fui às ruas por uma questão de honestidade e atenção ao meu país, ao meu estado, à minha cidade e à memória de tantos brasileiros como o senhor José Gomes, que representa para mim os diversos Zé Gomes de idos tempos.

O ontem e o hoje.

Uma criança foi entrevistada por um canal de TV, ontem à tarde durante as manifestações e perguntaram à ela qual a importância do evento deste domingo dia 15, ao que ela responde que só estava no evento por que foi trazida pela tia..

- O que é que você acha de ver esse povo todo reunido aqui? Pergunta-lhe a reporter.

- Uma perda de tempo! Diz a criança.

- "Não vai mudar nada?" pergunta novamente a repórter

E a menina simplesmente responde, de maneira desinteressada:

Nããoo!