As mentiras do Deputado Bolsonaro no Programa Roda Viva desta segunda.

Deputado Federal Jair Messias Bolsonaro
Enquanto assistia ao programa Roda Viva com Jair Bolsonaro na noite desta segunda-feira (30), o historiador Abdala Farah Netto reagiu da seguinte maneira aos comentários do presidenciável:

É triste e desanimador, enquanto Professor de História, ouvir Jair Bolsonaro, candidato à Presidência do Brasil, falando tantas aberrações, desonestidades e mentiras sobre temas como Escravidão Africana, Ditadura Civil-Militar, Direitos Humanos. O roteiro do Bolsonaro é sempre o mesmo: o mundo é de Esquerda! Todos comunistas! Só o Trump salva!

A entrevista de Bolsonaro teve grande repercussão nas redes sociais e bateu o recorde de audiência do Roda Viva. Na prática, porém, isto não significa que o candidato saiu maior da sabatina do que entrou, já que suas respostas foram marcadas por imprecisões e até mentiras. Confira as mais escandalosas:

VICE DE AÉCIO. No Roda Viva, Bolsonaro negou que tenha se oferecido para ser candidato a vice-presidente de Aécio Neves (PSDB) em 2014. “Eu nunca disse que queria ser vice de Aécio”, cravou o deputado.

Em uma entrevista exclusiva concedida em site Infomoney em 2014, Bolsonaro afirmou: “O Eduardo Campos está um pouco tímido em suas propostas e estratégias enquanto o Aécio Neves já se mostra muito mais simpático e agressivo. Eu sou uma oposição muito melhor que qualquer um dos dois, mas, se eu não for candidato, simpatizo muito mais com o Aécio, que é o representante da direita atualmente. Se eu não conseguir me candidatar, quero ser vice de Aécio Neves. Claro, nada disso nunca entrou em pauta e nunca ninguém falou sobre isso, mas seria uma grande honra para mim”.

Em outra entrevista ao jornal O Globo, Bolsonaro também externou seu apoio a Aécio: “Mesmo que ele não queira, voto no Aécio Neves. O grande mal do Brasil hoje é o PT. Se Dilma conseguir a reeleição, não fugiremos de uma ida para Cuba sem escala na Venezuela. É um governo que se preocupa em caluniar as Forças Armadas 24 horas por dia”.

No Youtube, Bolsonaro divulgou um vídeo em 2014 em homenagem ao tucano: “Deus salve o Brasil no dia 26 de outubro, votando em Aécio Neves para presidente”.

NEGROS SÃO CULPADOS PELA ESCRAVIDÃO. Ao responder um questionamento sobre cotas e a dívida histórica que temos com os negros, Bolsonaro afirmou: “Que dívida? Eu não escravizei ninguém. Os portugueses nem pisavam na África. Os próprios negros que entregavam os escravos. Os portugueses não caçavam os negros”.

Nenhuma dessas afirmações de Bolsonaro tem qualquer amparo nos fatos porque, segundo a historiografia do Brasil e de Portugal, portugueses não só escravizaram africanos como também colonizaram, ocuparam e exploraram economicamente a região.

O primeiro estabelecimento dos portugueses na África aconteceu em 1415, em Ceuta, hoje território espanhol. Em 1460, chegaram a Cabo Verde. A partir daí, foram traçadas estratégias de ocupação territorial, evangelização e exploração de recursos naturais.

Segundo o livro “História do Colonialismo Português em África“, de Pedro R. Almeida, até a independência do Brasil, os territórios portugueses na África eram essencialmente voltados ao fornecimento de mão de obra escrava ao Brasil. Há estimativas diversas, mas os números dão conta de que em torno de 5 milhões de escravos africanos foram trazidos ao Brasil entre os séculos 16 e 19.

Craque na política das fake news, Bolsonaro esqueceu de explicar, por exemplo, que a escravidão já estava presente na Europa. Desde a Antiguidade, o continente conheceu diversas formas de escravidão, mas menos intensas ou disseminadas do que aquela que surgiria a partir do século 16. A escravidão mercantil.

500 PROJETOS APRESENTADOS. No Roda Viva, Bolsonaro disse que tinha cerca de 500 projetos apresentados durante esses 28 anos que ocupa uma vaga na Câmara dos Deputados. Na verdade, segundo o site da Câmara, Bolsonaro é autor de 172 proposições. Apenas duas, no entanto, foram aprovadas.

TORTURADOR BRILHANTE USTRA. Ninguém poderá ser declarado culpado sem uma sentença transitada em julgado. E isso não aconteceu no caso do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”, disse Bolsonaro no Roda Viva. Ao falar de trânsito em julgado, Bolsonaro provavelmente se refere ao determinado pelo artigo 5°, inciso LVII, da Constituição Federal: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. É a chamada presunção de inocência. No caso do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi condenado em primeira instância em agosto de 2012 por praticar torturas no período do regime militar. O processo chegou a tramitar na segunda instância, na 9ª Vara Criminal da Seção Judiciária de São Paulo, mas foi suspenso provisoriamente pela ministra Rosa Weber em 2015 e, em seguida, foi extinta a punibilidade de Ustra em função da morte do réu durante o processo.

CAÇA AO LAMARCA. No Roda Viva, Bolsonaro disse que participou da luta armada no Vale da Ribeira (SP), na “caça ao Lamarca”. Só se foi como adolescente. Carlos Lamarca, capitão que deixou o Exército para aderir à guerrilha, foi morto em 1971, na Bahia, quando o hoje deputado tinha 16 anos.

No fim da entrevista, o jornalista Marcelo Rubens Paiva, que teve o pai assassinado pela ditadura militar, assinalou: “Cheguei à conclusão que Jair Bolsonaro não é de extrema-direita, mas de extrema-burrice”.