ViolĂȘncia contra a mulher tem cor

Ossesio Silva Ă© deputado estadual pelo PRB Pernambuco 

A Lei Maria da Penha completou 11 anos. É uma legislação considerada pelas NaçÔes Unidas como a terceira melhor do mundo no combate Ă  violĂȘncia contra a mulher, atrĂĄs apenas da Espanha e do Chile. No entanto, esse tipo de violĂȘncia ainda Ă© um desafio.

Diariamente, as mulheres sĂŁo agredidas verbalmente, silenciadas, insultadas, expostas na internet, assediadas, ocupam menos cargos de chefia, recebem menos salĂĄrios, sĂŁo violentadas e agredidas nas ruas, nas empresas e nos ĂłrgĂŁos pĂșblicos. Essa violĂȘncia Ă© histĂłrica, tem raĂ­zes profundas que envolve classe, etnia, gĂȘnero e poder, uma cultura acumulada por sĂ©culos, patriarcal e machista e que, lamentavelmente, ainda insiste em perdurar.

A mulher torna-se a cada dia um alvo fĂĄcil para esses criminosos, assim, para acompanhar as vĂĄrias formas de violĂȘncia contra a mulher e sua motivação, surge o feminicĂ­dio. Com a Lei nÂș 13.140, aprovada em 2015, o feminicĂ­dio passou a constar no CĂłdigo Penal no rol dos crimes hediondos motivados pela condição de gĂȘnero da vĂ­tima, quando envolve violĂȘncia domĂ©stica e familiar, menosprezo ou discriminação Ă  condição feminina.

O Brasil Ă© o quinto paĂ­s do mundo onde mais se matam mulheres apenas por questĂ”es de gĂȘnero. Segundo a Organização Mundial da SaĂșde (OMS), o nĂșmero de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. Pernambuco ocupa a 17ÂȘ posição no ranking nacional de violĂȘncia contra a mulher, em taxas de homicĂ­dio, segundo o Atlas da ViolĂȘncia 2017. No entanto, para as mulheres negras a situação ainda Ă© pior, elas sofrem dupla discriminação por ser mulher e ser negra e por isso, sĂŁo as mais violentadas.

O estudo ViolĂȘncia contra a mulher: feminicĂ­dios Brasil, produzido em 2013 pelo Instituto de Pesquisa EconĂŽmica Aplicada (Ipea), confirma esta realidade. O documento aponta que cerca de 60% dos feminicĂ­dios cometidos no Brasil vitimam negras. O Mapa da ViolĂȘncia 2015 que estudou homicĂ­dio de mulheres no Brasil, no perĂ­odo 2003-2013, mostra que o homicĂ­dio contra mulheres negras saltou tendo um crescimento de mais de 54%. Em contraposição, no mesmo perĂ­odo, houve um recuo de 9,8% no nĂșmero de crimes envolvendo mulheres brancas.

Sabemos que as desigualdades no Brasil fazem parte da formação histĂłrica, e que infelizmente, existe uma espĂ©cie de lĂłgica estabelecida na sociedade que produz e mantĂ©m, ao longo dessa histĂłria, hierarquias e lugares sociais que afloram essas desigualdades arraigada na intolerĂąncia em torno da cor e das relaçÔes de gĂȘnero.

Essa intolerĂąncia cria barreiras, que afetam diretamente as mulheres, principalmente, as negras. Barreiras que se estendem em todos os setores sociais impedindo a inserção dessas mulheres aos direitos bĂĄsicos para uma vida digna, punindo-as apenas pela sua cor. SĂŁo vĂ­timas do racismo e do sexismo, ocupam os piores postos de trabalho, sĂŁo as que menos tĂȘm acesso a educação de ensino superior, sĂŁo as mais rejeitadas em hospitais e as mais pobres.

É urgente corrigir as diferenças tendo em vista a grande representatividade da população negra em nosso paĂ­s. Embora tenha cada vez mais polĂ­ticas afirmativas, que tentam amenizar esse abismo entre brancas e negras, ainda impera a injustiça racial. E o mais lamentĂĄvel Ă© ver que muitos criticam e enxergam as tĂ­midas polĂ­ticas pĂșblicas como privilĂ©gio e nĂŁo como uma reparação histĂłrica de dĂ©cadas de negação, de exclusĂŁo dos direitos bĂĄsicos a qual a comunidade negra ainda sofre.