Todos os dias, seja nas redes sociais ou fora destas vemos e ouvimos pessoas tratar do espiritismo como sendo essa doutrina uma religião, mais uma, fazendo no geral inocente ou não, ligação da doutrina dos espÃritos instituÃda pelos seres do outro mundo, vinda ao mundo à partir da codificação kardequiana, como sendo um conceito afro descendente ou um credo de "consulta aos espÃritos", só e simplesmente.
Infelizmente vemos também alguns religiosos principalmente dos seguimentos protestantes, que dizem-se evangélicos, aproveitarem-se da ignorância de muitos, para jogar na lama todo um trabalho dos espÃritos. Há muito desconhecimento sobre essa doutrina que tem consolado seus adébitos ou pessoas que são beneficiados por ela não importando sua crença ou fé religiosa.
Há quem diga que espiritismo é uma seita que cultua os mortos e mantém contato com estes mediante consultas espirituais. Tem também quem cite que os espÃritas fazem adivinhações e sortilégios, realizando "trabalhos" que bendiga ou maldiga a vida da pessoa que "merece" certas proezas. Para uns tantos o espiritismo á uma religião que aliena pessoas levando-os à acreditar em coisas absurdas como vida após à morte, etc... Para um outro grupo de pessoas, ainda, o espiritismo é uma religião que tem contato ou pacto com os orixás e deuses africanos, confundindo-os, comumente, com a Umbanda, Quimbanda, Candomblé, e outras crenças afro-descendentes.
Mas, afinal de contas o que é espiritismo e o que essa doutrina tem que faz com que muitas pessoas a vejam como algo perigoso, que mereça ser afastada de suas presenças, só de ouvir falar nas palavras espÃrita, espÃrito?
Antes de mais nada, vamos à definição do que é espiritismo, no que crê ou prega, para que possamos, então, entender o que não é.
Resumimos abaixo, em poucas palavras, os pontos mais importantes da Doutrina EspÃrita que os espÃritos superiores transmitiram à Allan Kardec:
“Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.”
“Criou o Universo, que abrange todos os seres animados, e inanimados, materiais e imateriais.”
“Os seres materiais constituem o mundo visÃvel ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisÃvel ou espÃrita, isto é, dos EspÃritos.”
“O mundo espÃrita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.”
“O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espÃrita.”
“Os EspÃritos revestem temporariamente um invólucro material perecÃvel, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade.”
“Entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos EspÃritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras.”
“A alma é um EspÃrito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.”
“Há no homem três coisas:
1º, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princÃpio vital;
2º, a alma ou ser imaterial, EspÃrito encarnado no corpo;
3º, o laço que prende a alma ao corpo, princÃpio intermediário entre a matéria e o EspÃrito.”
“Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos EspÃritos.”
“O laço ou perispÃrito, que prende ao corpo o EspÃrito, é uma espécie de envoltório semi-material. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O EspÃrito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisÃvel para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visÃvel e mesmo tangÃvel, como sucede no fenômeno das aparições.”
“O EspÃrito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possÃvel de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certo casos, se torna apreciável pela vista , pelo ouvido e pelo tato.”
“Os EspÃritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os EspÃritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros EspÃritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc. Comprazem- se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malÃcia e as inconseqüências parecem ser o que neles predomina. São os EspÃritos estúrdios ou levianos.”
“Os EspÃritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espÃrita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral.”
“Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos EspÃritos, donde saÃra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de EspÃrito errante.”
“Tendo o EspÃrito que passar por muitas encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em outros mundos.”
“A encarnação dos EspÃritos se dá sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou EspÃrito possa encarnar no corpo de um animal.”
“As diferentes existências corpóreas do EspÃrito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.”
“As qualidades da alma são as do EspÃrito que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um bom EspÃrito, o homem perverso a de um EspÃrito impuro.”
“A alma possuÃa sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo.”
“Na sua volta ao mundo dos EspÃritos, encontra ela todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de todo bem e de todo mal que fez.”
“O EspÃrito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons EspÃritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos EspÃritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal.”
“Os EspÃritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.”
“Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contÃnuo. É toda uma população invisÃvel, a mover-se em torno de nós.”
“Os EspÃritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo fÃsico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.”
“As relações dos EspÃritos com os homens são constantes. Os bons EspÃritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo vernos sucumbir e assemelhar-nos a eles.”
“As comunicações dos EspÃritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia. Cabe ao nosso juÃzo discernir as boas das más inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos.”
“Os EspÃritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.”
“Podem evocar-se todos os EspÃritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos.”
“Os EspÃritos são atraÃdos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os EspÃritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, Por parte dos que as compõem, de se instruÃrem e melhorarem. A presença deles afasta os EspÃritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frÃvolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.”
“Distinguir os bons dos maus EspÃritos é extremamente fácil. Os EspÃritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos EspÃritos inferiores, ao contrário, é inconseqüente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malÃcia ou ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde reine Ãntima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.”
“A moral dos EspÃritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que quererÃamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. Neste princÃpio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores ações.”
“Ensinam-nos que o egoÃsmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao Fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo dos EspÃritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas; que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos EspÃritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.”
“Mas, ensinam também não haver faltas irremissÃveis, que a expiação não possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conformemente aos seus desejos e esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino final.”
O Livro dos EspÃritos – Allan Kardec
“O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é consequência direta da sua doutrina.”
“À ideia vaga da vida futura, acrescenta a revelação da existência do mundo invisÃvel que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à ideia.”
“Define os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte.”
“Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê por toda parte a justiça de Deus.”
“Sabe que a alma progride incessantemente, através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que a aproxima de Deus.”
“Sabe que todas as almas, tendo um mesmo ponto de origem, são criadas iguais, com idêntica aptidão para progredir, em virtude do seu livre-arbÃtrio.”
“Que todas são da mesma essência e que não há entre elas diferença, senão quanto ao progresso realizado.”
“Que todas têm o mesmo destino e alcançarão a mesma meta, mais ou menos rapidamente, pelo trabalho e boa vontade.”
“Sabe que não há criaturas deserdadas, nem mais favorecidas umas do que outras.”
“Que Deus a nenhuma criou privilegiada e dispensada do trabalho imposto à s outras para progredirem.”
“Sabe que não há seres perpetuamente votados ao mal e ao sofrimento.”
“Que os que se designam pelo nome de demônios são EspÃritos ainda atrasados e imperfeitos, que praticam o mal no espaço, como o praticavam na Terra, mas que se adiantarão e aperfeiçoarão.”
“Sabe que os anjos ou EspÃritos puros não são seres à parte na criação, mas EspÃritos que chegaram à meta, depois de terem percorrido a estrada do progresso.”
“Que, por essa forma, não há criações múltiplas, nem diferentes categorias entre os seres inteligentes, mas que toda a criação deriva da grande lei de unidade que rege o Universo e que todos os seres gravitam para um fim comum que é a perfeição, sem que uns sejam favorecidos à custa de outros, visto serem todos filhos das suas próprias obras.”
A Gênese – Allan Kardec
Acima você leu o que é o espiritismo em sua receita resumida. Quanto à tudo o que nós, espÃritas, cremos e defendemos nessa que tem sido a doutrina do esclarecimento, dentre tantos ramos cientÃficos e religiosos espalhados nos diversos cantos do universo. Quanto ao que dizem que é espiritismo e não é, fica então, à seu critério acreditar e no que nós acreditamos.
A doutrina dos espÃritos não precisa converter consciências. Ela está aqui para esclarecer à quem quer ser esclarecido, na medida de cada aceitação.