Marilia Arraes, prima de Eduardo Campos, diz em carta que o partido está desorientado

As palavras que vocês lerão abaixo são todas, sem tirar e nem por, inclusive com alguns erros de portugûes, da prima do ex-governador, e presidenciável, Eduardo Campos, e referente à uma questão política, interna, dentro do PSB.

Em determinados instantes captamos algumas citações e frases de efeitos, em que frisamos em negrito.

Acompanhe a carta de Marília Arraes, na íntegra.

Antes de mais nada, quero dizer que essa questão é política e não tem nada a ver com relações familiares.
O partido que integro é o Partido Socialista Brasileiro, o PSB. Ao meu ver, um partido político é o instrumento principal que há na democracia, com vistas a unir forças para atingir objetivos que condizem com uma ideologia comum a todos os filiados. O PSB sempre se destacou por uma defesa dos ideais democráticos e de uma sociedade mais justa.
O respeito às pessoas, às instituições, aos processos democráticos são preceitos do PSB, assim como o fato de combater o personalismo, interesses pessoais, econômicos ou de grupos isolados. Esses são valores com cresci, em que acredito e em que sempre acreditarei.
Estou em meu segundo mandato de vereadora do Recife. Sempre participei, no papel de militante, campanhas políticas do PSB. Em 2002, aos 18 anos, acompanhei Dr. Miguel Arraes durante toda a campanha que o elegeu um dos deputados federais mais votados de Pernambuco. Quatro anos depois participei ativamente da campanha vitoriosa do PSB para governador de Pernambuco. O meu engajamento dentro do partido, aliás, sempre foi intenso, tanto no âmbito estadual, como no nacional. Militei em diversas campanhas socialistas.
Durante o curso de Direito, na Universidade Federal de Pernambuco, participei do movimento estudantil, representei tanto o Movimento Faculdade Interativa, de que fazia parte, quanto o PSB e seu segmento de juventude (JSB), em diversas discussões e fóruns durante minha militância estudantil. Participei da JSB sem ter cargos ou títulos importantes na composição. Aliás, disputei espaços em eleições nos congressos estaduais e nacionais do PSB, em que algumas vezes ganhei, em outras perdi – na última vez, eu já era vereadora do Recife.
Fui eleita para o primeiro mandato na Casa José Mariano aos 24 anos. Procurei pautar o minha atuação na luta pela consolidação da democracia, defesa dos direitos humanos, questões urbanas, valorização da cidadania e incentivo à participação popular, principalmente, dos mais jovens. Fui vice-líder de governo, fui presidente da Comissão de Políticas Públicas para a Juventude e fui a primeira mulher a assumir a presidência da Comissão de Legislação e Justiça – responsável por analisar todos os projetos de lei que tramitam na cidade.
Após reeleita, em 2012, recebi a missão do partido de me licenciar e assumir uma secretaria municipal, recém criada, a Secretaria de Juventude e Qualificação Profissional da Prefeitura do Recife. Sem dúvida, foi uma missão bastante árdua, que só cumpriria quem realmente prioriza projeto político e não projeto pessoal. Uma das áreas mais abandonadas, historicamente, pelas sucessivas gestões, foi repassada para o nosso comando, com necessidades urgentes de intervenções de todo tipo – entretanto, a secretaria permaneceu até o segundo semestre sem, sequer, ser unidade gestora, consequentemente não tinha orçamento. Quase ao final de 2013 nos foi liberado algo que não chegava nem a 5% do mínimo necessário para suprir as urgências relacionadas a instalações físicas, valorização dos professores e regularização de contratos, sem contar com os insumos básicos usados em sala de aula. Visivelmente, essa não era a prioridade da gestão. Ainda correndo risco de assumir ônus políticos sobre pontos que estavam fora de meu alcance, me mantive firme no compromisso, fizemos o possível e o que parecia impossível, mas conseguimos avançar nesta área, que deveria estar entre as prioridades da prefeitura de uma cidade carente como o Recife. Só deixei o posto no início de abril, por exigência da legislação eleitoral.
Foi necessário que eu, sendo militante do PSB e da JSB-PE, expressasse em nota o meu sentimento diante da movimentação anti-democrática que estava ocorrendo na juventude do partido. A atitude feria a democracia e a transparência e ainda dissolvia duas chapas, compostas por jovens companheiros dedicados à militância partidária. Um partido político é, também, responsável pela formação política coerente de nossos futuros líderes. E, para a construção constante de um partido, é necessário que haja, principalmente, condições de legitimidade.
A prova que o processo feria a democracia é que companheiros das chapas só souberam da intervenção através da imprensa e de ruídos de corredor. Pela imprensa, também, foram informados de que havia um consenso entre ambas as chapas e a composição em torno de um nome. Havia, sim, algo fora de ordem, já que, poucos dias depois, houve um recuo da imposição que denunciamos e o processo voltou a correr livre , como deveria ter sido desde o princípio.
Para mim, Marília Arraes, este episódio foi a gota d´Ã¡gua para fazer o meu copo transbordar. Essa história na JSB-PE não é um fato isolado. Ele está dentro de um contexto maior.
Preciso esclarecer que minha formação política me impulsiona a resolver problemas internos partidários dentro do partido. Se preciso recorrer à imprensa, é porque eu e muitos não temos acesso a opinar ou discordar. Nos raros fóruns de discussão democrática, é ainda mais rara uma crítica ser tomada como construtiva. Ou é simplesmente desconsiderada, ou é entendida como uma espécie de subversão. E quem critica já é visto como opositor, ou do contra.
Há algum tempo percebo que os conceitos e ideais do PSB não estão sendo colocados em prática pela sua cúpula e isto se reflete em todo o partido. As minhas observações apontam que o movimento interno no PSB é oposto ao da democracia.
Existe uma tendência à imposição de ideias em lugar do diálogo. Existem as pessoas que são “ungidas” . E as que não são escolhidas para receber esta bênção? Estas são impedidas de participar do processo, são, como se diz em todos os corredores, minadas.
Ou seja, dentro do PSB, e não é de agora, a cúpula partidária resolve quem são os representantes do partido, algo que outrora era realizado de maneira democrática e levava em consideração o histórico de militante. Agora, não faz diferença ser militante histórico do partido, ainda que tenha boa formação intelectual e capacidade técnica agregadas a uma atividade política respeitável. Baseado em interesse ou razão que não sei explicar, muitas dessas pessoas são desestimuladas direta ou indiretamente, a seguir adiante com os projetos que defendem. Ressalto que é incoerente dizer que um projeto é pessoal, no momento em que, à frente deste, está um líder político, por vezes, eleito democraticamente. No meu caso, ressalto que todo este processo ocorreu indiretamente, uma vez que JAMAIS fui contactada por nenhuma liderança no sentido de orientar qual seria meu papel político no cenário que vemos agora.
Para esta eleição, as candidaturas proporcionais devem estar atreladas a uma chapa que parece ter sido formada mais por razões eleitorais do que por convicção ideológica. É, quando não se explica, discute e um militante não digere bem a informação, interpreta livremente. Até porque são grupos que, ideologicamente, combati minha vida inteira.
A minha candidatura sempre foi construída com base no apoio da militância, respeitando as diretrizes partidárias. Mesmo não concordando sempre fui disciplinada. Mas tenho ciência que bases de parlamentares socialistas, inclusive as minhas, estão sendo cooptadas ou forçadas a apoiar outros, em movimentos artificiais, apenas para atender compromissos assumidos sem qualquer transparência ou debate prévio. E o mais grave: os companheiros de partido não se sentem à vontade para expressar as suas insatisfações com a condução dos processos aos seus pares.
É hora de fazermos um reflexão séria e ponderada sobre os rumos que o PSB está tomando. Foi realmente este o partido que contribuímos para construir e a que dediquei quase um terço de minha vida? É esse o caminho? Eu não concordo que seja. Por isso, espero, com está fala, representar a de tantos outros que não podem se expressar por alguma razão que não nos interessa. Espero também contribuir para que nosso partido continue crescendo como está, entretanto, mantendo a coerência e os compromissos que nós movem a caminhar cada dia.
Então, acredito que não é coerente buscar o poder pelo poder e, assim, fazer parte de uma chapa que agride aquilo em que acredito. Até mesmo porque os candidatos proporcionais dão suporte a um projeto muito maioré correto defender um projeto político com que a gente não concorda? Então, em função disso, retiro a minha pré-candidatura a deputada federal, e demonstro que minhas reações e críticas recentes têm muito mais profundidade do que o que insinuam, tentando minimizar o debate.
Marília Arraes