A Justiça como você pensa que é e como ela é de fato.

Uma mulher atravessando calmamente a rua, distraída com alguns problemas familiares, além de outras coisas que à está afetando, bem como, problemas com a saúde, debilitada já com a idade, é atropelada na rua, por um possante Hilux.

Ela segue à pé para o hospital, é atendida. Passa alguns dias de repouso, e depois, aconselhada por amigos segue para a delegacia para prestar queixa, uma vez que ela foi atropelada em via pública.

Ficou-se sabendo depois, que o carro em questão pertencia à um filho de uma personalidade da cidade, tendo cargo político, e tudo o mais que lhe bastasse para não ser punido. 

Apesar de temerosa, a senhora segue para a delegacia, por acredita piamente na justiça e querer, providências, já que ela precisará por um bom tempo, de medicamentos para cuidar de seus ferimentos por conta do acidente.

Ao chegar na delegacia, o agente lhe desfere um monte de perguntas 

- Sabe de quem foi o carro?

- Sei sim, pertence à fulano de tal que é atuante em determinado cargo politico aqui da cidade.

- Sei, e a senhora tem certeza de que foi ele que estava ao volante naquele dia em que a senhora foi atropelada? Lembra o numero da placa? Qual foi mesmo a hora do acidente? Qual a rua?... etc... etc... etc...

A mulher, crédula, passa todas as informações devidas. No entanto, a mesma ainda é aconselhada à não prestar queixa contra aquele senhor, já que ele é um político atuante na cidade.

Irresoluta, a mesma continua e finalmente, ao cabo de aproximadamente duas, quase três horas, sai com um pedaço de papel nas mãos. A partir dali, as pessoas serão intimadas, cada um dando possivelmente sua versão dos fatos e o caso, desde que lavrado o T.C.O segue para ser julgado para a justiça.

A partir dali, a espera é longa, por parte da promotoria que vai levantar o caso, de advogados de defesa que farão todo o possível para que seu cliente não perca aquela causa para uma mulher qualquer. Sem contar que ainda tentarão colocar a culpa na mulher por distração, já que ela não olhou para os dois lados para atravessar a rua. "Ou quem sabe", isso pode estar na cabeça de um dos advogados de defesa, "será que isso não é intenção dela, de forjar um acidente para abocanhar o dinheiro de meu cliente!?"

O caso leva anos e anos, para quem sabe um dia, vir à caducar.

Nesse meio tempo, um neto desta mesma senhora, com uma moto nova, sai pelas ruas de sua cidade, todo feliz da vida. Afinal de contas, não foi fácil ter aquela moto. Fruto de muito esforço e trabalho, juntando o que fora possível para ter um veículo, atuando como moto boy para uma empresa como entregador de pizza.

Passou a noite toda trabalhando, com diversas entregas de pizza em muitos lugares da região. Estava voltando para casa. A noite foi longa, como dizem.

Ao sair de uma esquina, olha para um dos lados e não vê quando um rapaz, por volta de seus 17 ou 18 anos vem correndo pela rua, totalmente bêbado. O acidente foi inevitável. O rapaz entra em desespero, não por sua moto, mas por conta do acidentado que está ao chão.

A ambulância do estado é acionada e o acidentado é lavado para tratamento no hospital da cidade. E de lá, para cuidados especializados à altura do dinheiro que a família do rapaz pode pagar.

Quem era o rapaz acidentado? Um filho de um político local. Justamente o político que acidentou aquela senhora, à aproximadamente dois anos atrás.

Este por sua vez, pede justiça e quer que o rapaz da moto seja preso e encaminhado para algum presídio, imediatamente.

As providências são tomadas, e em pouco tempo o rapaz, que sequer terminou de pagar as prestações da moto, é encaminhado à um presidio, sem sequer ter uma defesa justa, já que não tendo dinheiro para pagar algum advogado, teve que recorrer à um defensor público, que por azar do rapaz, era amigo do tal político tendo o advogado alguns parentes agregados à certos cargos na prefeitura, podendo com sua ação favorável ao rapaz da moto, ter seus familiares demitidos como punição.

Por azar terrível da senhora, ela vê seu caso, enquanto cidadã sendo esquecido pela justiça, anos à fio e o seu neto, seu único neto, que comprou uma moto, para ajudar com as despesas de casa, já que esta o criava como filho, desde que a mãe daquele jovem teria se suicidado, após ter sido, alguns anos atrás, estuprada por alguns senhores, que pelo que dizem, eram filhos dos donos da casa grande, senhores de uma fazenda próxima, que depois teriam se tornado políticos na região.

Convive com a situação de seu neto, seu único neto, preso.

A Justiça como você pensa que é e como ela é de fato.