O relatório da pesquisa Ibope divulgado
na quinta-feira (22) traz alguns números altamente comprometedores pela
inconsistência. Se a eleição tivesse dez candidatos, segundo o Ibope, o senador
Aécio Neves (PSDB-MG) teria 20%. Se a eleição tivesse três candidatos, o tucano
cairia para 17%.
Na prática é como
se sete candidatos desistissem, ficando apenas três. Logo, as intenções de
votos dos candidatos que sobraram deveriam ficar iguais ou subir. Mas
inexplicavelmente o tucano cai para 17%. Dilma Rousseff (PT) também cai um
ponto, de 40% para 39%, enquanto só Eduardo Campos (PSB) manteve seus 11%.
Convenhamos que há pouco valor científico em uma pesquisa em que você apresenta
uma pergunta a uma pessoa com um disco de dez nomes, e ela diz que votará em
Aécio. Imediatamente em seguida você pergunta à mesma pessoa mostrando outro
disco com apenas três dos nomes anteriores, e ela diz que não votará no tucano.
Isso ocorreu de forma significativa, afetando três pontos o resultado. Em uma
pesquisa com rigor científico, estes questionários que apontam contradições
deveriam ser desconsiderados, pois não foram respondidos com seriedade.
A conclusão, dentro da própria pesquisa Ibope, se for para levá-la a sério, é
que Aécio tem de fato 17% de intenções de votos, e não 20%.
Outra inconsistência está nos votos brancos/nulos. São 18% na espontânea. Na
pergunta estimulada com dez nomes, os nulos caem para 14%, porque não existe no
disco a opção nulo, o que faz alguns pesquisados acreditam que são obrigados a
escolher um nome do disco, mesmo que tenham a intenção de anular o voto. Isso
já cria uma possível distorção. Quando a pergunta estimulada seguinte reduz de
dez para os três principais candidatos, os nulos vão a 21%, mais coerentes com
a pergunta espontânea. Alguma coisa foi feita errada na pergunta com dez nomes
que acabou levando votos nulos para Aécio.
Na rejeição também há problemas. Houve gente que respondeu votar em Aécio na
pesquisa espontânea com 10 candidatos, e, momentos depois, quando perguntado em
quem não votaria de jeito nenhum, apontou no disco o nome de Aécio. Estas
ocorrências se deram também com Dilma e Campos. É uma percentagem pequena, mas
não é insignificante. E o mais provável é que o pesquisado não tenha entendido
bem a pergunta, achando que seria em quem votar. Uma pesquisa com mais rigor
científico deveria questionar o pesquisado sobre a inconsistência da declaração
de voto com a rejeição. Se persistisse, o questionário deveria ser
desconsiderado.
Chama atenção também 80% das pessoas declararem estar satisfeitas ou muito
satisfeitas com a vida que vêm levando hoje. Esse sentimento de bem-estar
social torna difícil compreender as recentes quedas na aprovação do governo e
da presidenta. Não é impossível, já que está em curso há meses um processo de
"sangramento" da imagem da presidenta e do governo nos meios de
comunicação de massa oposicionistas. Só pesquisas qualitativas poderiam
esclarecer, perguntando aos que desaprovam qual o motivo.
Parte destas inconsistências pode ser explicada na pergunta sobre o interesse
nas eleições. 57% disseram ter pouco ou nenhum interesse, daí pode haver uma
grande quantidade de respostas displicentes, com baixo grau de certeza. Isto
reduz a utilidade das sondagens como informação ao público.
Mas, com a frequência quase semanal com
que estão saindo pesquisas, parece que o interesse não é exatamente informar ao
público. O interesse parece mais ser o de criar um clima de que a oposição
estaria em alta e a candidatura governista em baixa. Pelo menos neste último
quesito esta última pesquisa Ibope frustrou a oposição.
"No cenário com dez candidatos, tucano tem mais votos que na simulação em que estão apenas ele, Dilma e Eduardo Campos. Parece haver interesse de mostrar oposição em alta e governo em queda"
"No cenário com dez candidatos, tucano tem mais votos que na simulação em que estão apenas ele, Dilma e Eduardo Campos. Parece haver interesse de mostrar oposição em alta e governo em queda"